Amigos, parte do texto abaixo já saiu no Nós por Nós. Acrescentei mais algumas observações.
" - Nossa Yvonne! Nunca poderia imaginar que a sua aparência fosse essa.", disse um rapaz surpreso quando me conheceu por ocasião de um encontro nacional no Rio de Janeiro de estudiosos de um determinado assunto, todos participantes de um grupo do Yahoo.
A razão da "decepção" é que ele deveria imaginar que toda mulher que gosta de escrever não seria dotada de algum atributo físico que possa encantar alguém. Queria esclarecer que sou uma mulher comum, cinqüentona, gordinha e estou muito longe de parar o trânsito, mas feia eu não sou.
No entanto, eu fico imaginando quantos leões as mulheres realmente lindas devem matar por dia para provarem que têm algo mais dentro de duas cabeças. Tenho vários conhecidos que fazem cara de poucos amigos quando eu digo que sou fã da coluna quinzenal que a Maitê Proença escreve na revista Época. "Não, você só pode estar de sacanagem comigo", dizem uns. "Dá um tempo, Maitê Proença?!?", dizem outros. É, ficamos combinados assim: toda mulher linda e loura é, em princípio, uma burra bem boçal. Sei que essa atriz e colunista não é nenhuma Dora Kramer, mas mérito ela tem e muito. Não adianta vir com argumentos genéticos, culturais, históricos, sociais ou qualquer outro que a sociedade já decidiu que a mulher bonita só serve para ser gostosa. Se ela for morena, podemos dar um pequeno crédito de confiança, mas loura JAMAIS.
E assim, nós vamos vivendo com estereótipos:
- todo gaúcho é metido a machão
- todo carioca é malandro
- todo paulistano vive para o trabalho
- todo muçulmano é terrorista
- todo judeu só pensa em dinheiro
- todo brasileiro só quer se dar bem
- todo mineiro é desconfiado
- todo baiano é preguiçoso
- toda mulata é para ser comida
- todo negão é espada
- todo inglês é gentleman
e por aí vai, a lista é infinita.
E em pleno terceiro milênio, muitos de nós ainda acreditamos nessas idéias pré-concebidas porque a sociedade, através da mídia, reforça esses conceitos, cria padrões de comportamento e forma opiniões ainda que não sejam verdadeiras, tratando as pessoas como objetos consumíveis e posteriormente descartáveis. O pior é quando nos deparamos com pessoas que fazem questão de reforçar essa idéia.
Conheci um rapaz que era o segurança que ficava ao lado da minha prima na empresa em que ela trabalhava como recepcionista. Ele era um mulato lindíssimo e que deixou a mulherada da empresa em polvorosa. Toda hora descia alguém para falar uma besteira qualquer com a minha prima. Só que ele percebia isso tudo e ficava na dele. Ele era sensível, escrevia poesias, lutava como um louco para ter tempo para estudar e ter o seu lugar ao sol. Só conversava com a minha prima. Quando uma vez ela indagou o motivo de ele ser tão fechado quando as moças iam lá na recepção, ele respondeu algo do tipo "Eu não nasci para ser objeto sexual de ninguém, principalmente de gente que em seus prédios mandaria eu entrar pela porta de serviço". Um homem de caráter que eu espero que tenha conseguido ter uma profissão melhor.
Fico fula também quando vejo lourinhas (a maior parte oxigenada) fazendo o tipo "eu sou a sua neném e não entendo nadinha de nada". Isso é um verdadeiro retrocesso para as mulheres que tanto lutaram e lutam para que não sejamos consideradas seres humanos de segunda categoria. Enfim, rótulos são sempre perigosos porque um dia eles podem se voltar contra nós. Quando eu vejo mulheres como Miriam Leitão, Fernanda Montenegro, Marilia Gabriela e tantas outras, eu me encho de orgulho, ainda que possa não concordar com o que elas pensam. Elas conseguiram se superar.
Beijocas
Yvonne
P.S.: Não se esqueçam de me dizer a data do aniversário de vocês.
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