Amigos,
Meus dias de postar são segundas, quartas e sextas. Como iria estar no Rio, não preparei nada novo para hoje. Revendo o meu baú, achei essa declaração de amor ao bairro de Botafogo que foi escrita em março de 2002 aos meus queridos amigos de um grupo do Yahoo. Achei importante postar, considerando o caos que está o bairro por causa dessa chuva. A propósito do assunto, a chuva veio para cá. Tomei a atitude certa, visto que durou a noite inteira. Outra coisa, me arrisquei a usar um ponto vírgula, vejam se acertei.
Nasci na Tijuca. Saí da maternidade e fui direto para o bairro de Botafogo. Só saí de lá quando me casei aos 28 anos. Foram 17 anos morando em uma aprazível rua cheia de casas e de prédios de no máximo 3 andares (ainda hoje ela é assim, só tem um grande prédio) e mais 11 anos em uma das piores ruas do Rio - Voluntários da Pátria. Para quem é de fora, a Voluntários é uma rua de passagem que liga o Centro aos bairros do Jardim Botânico, Gávea e outros, logo o movimento de carros é muito grande.
No entanto, devo confessar que nunca me senti infeliz por morar em uma rua não muito nobre da Zona Sul. Eu sempre adorei Botafogo. Esse bairro é como um filho cheio de problemas e muitas metas a serem superadas, mas qual mãe que vai deixar de amar o próprio filho por causa disso?
Botafogo não tem o charme dos bairros famosos do Rio, suas meninas não andam de sutiã de biquíni e shortinho para irem à praia; elas são forçadas a serem mais comportadas, pois precisam pegar ônibus. Nenhuma delas inspirou Vinícius (também filho do bairro) a compor "Garota de Botafogo", mas o lugar tem um borogodó que só quem mora lá conhece. Como a maioria dos bairros da Zona Sul, são 3 ou 4 ruas principais e mais um monte de transversais. As principais - Voluntários, São Clemente e Mena Barreto - são conhecidas por sua grande agitação, mas as transversais são uma delícia. São cheias de casas, sobrados do início do século passado, sem contar alguns casarões imponentes. Logicamente tem muitos prédios também, mas em que bairro da ZS se vê tantas vilas?
Outra coisa, até há pouco tempo atrás alguns donos de mansões abriam os portões de seus jardins para crianças pequenas acompanhadas de mamães e babás. Eu e meu irmão quando crianças, brincávamos no jardim da casa de um grande escritor cujo nome está me escapando (detesto quando isso acontece, acho que J.G. de Araújo Jorge). A casa tinha um mini zoológico e era uma alegria sem fim ver os bichos, principalmente os miquinhos que eram muito engraçados. Os donos de uma bela mansão na Rua São Clemente também permitiam crianças pela manhã. Esse costume tão peculiar acabou quando começou a onda de seqüestros.
Suas vantagens também vem a ser uma grande desvantagem: são muitos colégios tradicionais e muitas clínicas. Em compensação, temos a São Clemente com aquelas mansões maravilhosas, sendo uma delas a casa do cônsul de Portugal, um dos palacetes mais lindos do Rio. Chegando ao meu pedaço preferido - o Humaitá - temos oportunidade de conhecer ruas que continuam paradas no tempo: Cesário Alvim, David Campista, Viúva Lacerda e a minha querida João Afonso, dentre diversas outras. Conheço muitas histórias sobre os cantinhos: foi nesse prédio que a menina caiu da janela e morreu na hora, é ali que mora aquela doceira de mão cheia, é nessa casa que morou o Barbosa Lima Sobrinho, aquela outra ali é do Ivo Pitanguy, naquela rua tem um castelo lá no final.
Para mim, Botafogo ainda tem mais duas vantagens:
a) as ruas do Humaitá terminam no morro (acidente geográfico e não favela) onde se encontra o Cristo Redentor. A visão daquela estátua de quem se encontra aos seus pés é simplesmente magnífica.
b) para mim, vejam bem, para mim, a Praia de Botafogo é a mais linda do Rio. Sei que temos praias bonitas de mar aberto, mas nenhuma delas tem o Pão de Açúcar ao fundo com aqueles barcos e iates descansando sobre suas águas plácidas. São quase 50 anos de vida e até hoje eu não me canso de admirar aquela beleza toda.
Botafogo só tem um grande problema: seus filhos não lhe prestam as devidas homenagens. O único que eu conheço é o Paulinho da Viola que mora não sei onde, mas não se esquece de suas raízes, está sempre por lá e fala coisas muito lindas. Não é o bairro mais bonito, não é o mais charmoso, mas para sempre terá um lugar no meu coração. Eu, como uma filha apaixonada, quero dizer que fui muito feliz por ter por ter vivido a minha infância e juventude lá.
Beijocas
Yvonne
|