Não adianta, eu sou que nem o velho Zagallo, vocês vão ter que agüentar as minhas lembranças. Recebi uma mensagem de um amigo que mora em Salvador contando as peripécias de um local em que ele foi naquela cidade onde a turma coroa se esbalda de dançar. É um espaço onde "as véias querem agarrar os ômis" e que me fez lembrar uma deliciosa noite em minha vida. No final de 1984, Antonio e eu fizemos um viagem por quase todo nordeste brasileiro começando por Fortaleza. Na nossa primeira noite, decidimos sair para dançar forró. Pedimos ao pessoal do hotel que nos indicasse algum local interessante e que fosse freqüentado pelo povo. Lugar recomendado, lá fomos nós. Para nossa decepção, tratava-se de uma casa de espetáculos que só gringo entra. Saímos uns 5 minutos após termos entrado e não pagamos nada.
Viemos andando pelas ruas, muito chateados com a globalização (palavra que nem devia existir na época) do planeta, quando de repente ouvimos um forró ao longe. Fomos seguindo o som e nos deparamos com uma espelunca que o meu falecido avô Camilo com certeza chamaria de chinfrim. Umas pessoas humildes, a maior parte delas com aquela feiúra dos que vivem a margem da sociedade, mas todo mundo vestido com suas melhores roupas e bastante felizes. Quando nós entramos, quase todas as cabeças se voltaram para aquela dupla diferente que jamais entraria em um local daquele.
Passados os nossos 15 minutos de fama e notoriedade, ficamos dançando e apreciando tudo. Não me esqueço de duas velhinhas (põe velhinhas nisso) dançando juntas, o Antonio não agüentou e disse para mim que iria tirar uma delas para dançar. Autorização dada, lá foi ele se esbaldar com a velha que tinha idade de ser bisavó dele. Ele rodopiou a velha para tudo que era lado e ela na maior animação, era um pé de valsa prá ninguém botar defeito. Estava vendo a hora dele jogar ela para o alto e pegá-la no colo. Prá que? A mulherada toda foi para cima dele, as mais velhas me pediam licença para dançar com ele, mas as mais novas não se deram a esse trabalho. Fiquei em pé no meu canto, tomando cerveja e morrendo de rir. Os poucos homens que tinham lá ficaram olhando para mim, mas não se atreveram a me tirar para dançar, ainda bem, porque eu não dançaria. Eles não devem ter entendido muito bem que apito tocava aquele casal estranho para os padrões locais.
Bom, cansado o Antonio de ser dublê de John Travolta dos trópicos, dançamos juntos mais umas músicas, sentamos para tomar umas cervejinhas e fomos embora felizes da vida. Ficou uma saudade enorme daquela noite tão gostosa para a gente. As velhinhas deram um verdadeiro show de alegria e nos ensinaram muita coisa com seus sorrisos desdentados. Ficamos apaixonados por Fortaleza também pelo simples fato de termos conhecido a cidade como ela é e não aquela para inglês ver.
Beijocas
Yvonne
A porta entreaberta
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Depois de um longo inverno, onde ficamos sem postar por motivos alheios à
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Há 13 anos
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