Se todos os dias são iguais, torne-se diferente

Yvonne

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Brasileira, ariana nascida no Rio de Janeiro, morando atualmente em Guarapari, mulher, esposa e mãe. Gosto de artes em geral, de ler, de trocar idéias, de praia, de cinema, de tomar cerveja e de dar boas gargalhadas.

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CHANCHADAS

Amigos, houve uma época em que vivíamos em um Brasil ingênuo demais. Sempre tivemos problemas sociais, alguns deles muito graves e sérios, mas havia no ar uma sensação de que a vida era boa. Infelizmente não curti muito essa fase, apenas o finalzinho dela quando criança. Logo surgiriam os anos de chumbo que iriam mudar o rumo do país.

Eu não sei quanto a vocês, mas eu adoro ver na televisão os filmes da época da chanchada. Absolutamente tudo ali é amador. As histórias são de uma bobagem só, os figurinos e cenários são simplesmente pavorosos, o som, como de hábito no cinema nacional até pouco tempo atrás, é quase inaudível e um monte de outros defeitos.

A produtora carioca Atlântida, fundada no início da década de 40, descobriu nos filmes carnavalescos um grande negócio, capaz de fazer muito sucesso entre o público brasileiro. Sem dúvida, ela foi a grande responsável pelo sucesso das chanchadas e a pioneira em adotar os temas carnavalescos em forma de musicais. Na época, não existia a televisão. Ele acabava sendo um dos únicos meios de comunicação capazes de trazer entretenimento ao público que não tinha acesso aos cassinos. Assim, filmes quem apresentassem os cantores iriam atrair todas as atenções em todo o país, já que finalmente o público poderia conhecer a fisionomia de seus ídolos.

Na época, o Rio de Janeiro era considerado o grande núcleo do teatro de revista no Brasil. Este tipo de teatro era feito sobre a estrutura de esquetes e portanto, com grande número de comediantes. Desta forma, são levados para o cinema estrelas da teatro, do cassino da Urca e do rádio, como Grande Otelo, famoso no cassino da Urca, e Oscarito, trazido do circo. Os dois comediantes viriam a formar a dupla mais famosa de toda a história das chanchadas. Eles atuaram juntos em 17 filmes, entre 1935 e 1965.

O papel do galã ficava a cargo de Anselmo Duarte ou Cil Farney, a mocinha era Eliana Macedo, que trabalhava muito mal, mas que tinha muito carisma, e o vilão, José Lewgoy. Mais tarde viriam do rádio Zé Trindade e Chico Anísio. Do teatro são trazidos Dercy Gonçalves e Costinha. Com tamanha quantidade de estrelas, o Rio de Janeiro dos anos 40 e 50 era considerada a Hollywood brasileira. A Atlântida vivia seus dias de Metro. Zezé Macedo, Renata Fronzi, Ankito, Ronald Golias e tantos outros eram simplesmente o máximo.

Gente, nada era bom, mas o trabalho desses comediantes não tem preço. Os enredos desses filmes eram sempre baseados em romances e histórias açucaradas. Geralmente havia um romance entre um homem rico e uma moça pobre, que é atrapalhado por um vilão, que estava sempre em busca de dinheiro ou algo que lhe trouxesse benefício. Invariavelmente, os filmes terminavam com o bandido sendo levado pela polícia e com o happy end do casal apaixonado. Mais bobo impossível, mas é uma delícia de se ver, principalmente por causa dos números musicais com marchinhas carnavalescas muito bobas. Era um Brasil brasileiro, mais especificamente carioca. Minha mãe conta que quando morava no nordeste às vezes não entendia muito bem a conversa por causa das gírias e a maneira de falar. Ainda assim, o Brasil inteiro se rendia a esses filmes porque as pessoas queriam ver seus ídolos.

Acabou porque chega uma hora que tudo tem que acabar. Um dos principais motivos foi o surgimento em São Paulo dos estúdios da Vera Cruz, cujo objetivo era a implantação de uma indústria cinematográfica no país através da produção das chanchadas populares com qualidade técnica de nível internacional. Para tanto, foram trazidos centenas de profissionais da Europa e Estados Unidos.

Simultaneamente, Assis Chateaubriand trouxe a televisão para o Brasil. A popularização da mais nova forma de entretenimento, que explodiu na década de 60, fez com que o cinema perdesse em grande escala seu público para a televisão, principalmente tratando-se de produções nacionais. Nosso cinema nunca mais foi o mesmo.

Estes fatores, somados ao surgimento do Cinema Novo e ao próprio esgotamento da fórmula "comédia e musicais" fizeram com que nossas chanchadas desaparecessem. Apesar de terem sido desprezadas por muitos naquela época, atual esses filmes são considerados "cult". Mesmo o mais sisudo dos críticos de cinema se rende hoje em dia àquele humor ingênuo e sente uma certa saudade de um Brasil que já não existe mais e daquele outro que os brasileiros achavam que estaria por vir brevemente e que parece não ter encontrado o seu caminho.

Beijocas

Yvonne
P.S.: Não sei se vocês sabem, mas eu sou quase imbecil em termos de tudo da Internet. Hoje eu botei o medo de lado e inseri 3 fotos. Se sair alguma besteira, não liguem.